Na Serra de Santana, o espectro da seca ronda o ambiente como ave de rapina em busca de mais uma vítima. A caatinga se espalha no solo estorricado pelo sol. No alto da serra, a casa de taipa onde nasceu o poeta Patativa do Assaré, porta-voz do agricultor sofrido, sem terra, o guerreiro da tribo Cariri que denunciou o flagelo dos seus irmãos nordestinos.
Foi neste cenário que o padre Vileci Vidal abriu a Festa da Padroeira de Assaré, Nossa Senhora das Dores, e anunciou o “Grito dos Excluídos” que, este ano, defende um plebiscito popular pelo limite da propriedade da terra. O pedido será levado ao Congresso Nacional, em Brasília, para que seja votada uma emenda constitucional que determine um limite ao tamanho das propriedades.
A missa teve início com a leitura de um poema de Patativa sobre reforma agrária. Na plateia, cerca de 300 pessoas, a maioria agricultores, que mostram na face o sofrimento em consequência de sucessivas secas. No altar em frente à casa do poeta, hoje transformada em “Museu do Agricultor”, o celebrante justificou a escolha da localidade para a celebração, afirmando que ali Patativa deu um seu “grito de protesto”, que foi ouvido em todo o Brasil contras as injustiças sociais e, principalmente, contra a concentração de terras.
O padre Vileci destacou o papel de Patativa como defensor dos pobres. Mesmo vivendo numa comunidade rural atrasada, dominada por coronéis que monopolizavam a agricultura, refém do descaso dos governantes, ele nunca abateu seu ânimo: ao contrário, fortaleceu-o ainda mais, tornando-se crítico do modelo econômico, político e social importo ao povo pobre.
Outra virtude do poeta, de acordo com o celebrante, era o seu sentimento religioso, que vem sendo seguido pela família. Todos os filhos e netos de Patativa, que moram na Serra de Santana, estavam presentes. Inês, a filha mais velha, que transcrevia seus poemas, disse que ele nunca perdia a festa da padroeira. Comprou uma casa ao lado da matriz para assistir às novenas, lembrou Inês.
O ritual teve início às 6 horas, com uma cavalgada que saiu da Igreja Matriz de Assaré para a Serra de Santana. No percurso de 20 quilômetros, grupos de cavaleiros se juntaram ao cortejo puxado por um carro de som, tendo a frente o próprio vigário e o prefeito da cidade, Francisco Evanderto Almeida.
Preces
O jovem agricultor Marcos Rodrigues Arrais se deslocou do Sítio Mameluco para acompanhar o grupo. Ia assistir à missa para pedir a Deus um bom inverno em 2011. Ele acrescentou que, este ano, perdeu tudo com a falta de chuvas. “Não colhi, sequer, um saco de milho”. A mesma lamentação é manifestada pelo agricultor Francisco de Assis Dias, residente no Sítio Junco. Dias mostra a roça de milho perdida.
No meio do caminho, alunos da Escola Municipal Antonio Ângelo da Silva encenam uma poesia de Patativa sobre reforma agrária. O secretário de Cultura do Município, Marcos Salmo, lembra a devoção de Patativa à Nossa Senhora das Dores e destaca sua poesia profética em defesa dos pobres. O cortejo segue a sua trajetória, cortando o sertão seco em direção à Serra de Santana, onde outro grupo de devotos de Nossa Senhora das Dores e admiradores de Patativa aguarda os cavaleiros.
Católico praticante, Patativa tinha uma visão moderna de Deus e da religião. Para ele, o sofrimento do nordestino não era um castigo de Deus, mas fruto da ausência de políticas públicas destinas ao homem do campo. No poema “Caboclo Roceiro”, ele reafirma a sua convicção religiosa com estes versos: “Tu és nesta vida o fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/Caboclo não guarda contigo esta crença/A tua sentença não parte do céu/ Tu és nesta vida um fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/ Caboclo não guarda contigo esta crença/ A tua sentença não parte do céu”.
Para o padre Vileci, estes versos refletem a alma do poeta, um sertanejo calejado na luta para traduzir o sentimento do seu povo. Com a mesma coragem com que cavava a terra na luta diária pela sobrevivência, fazia poemas que eram utilizados como arma santa contra os opressores.
Restavam-lhe as palavras que, juntas, tornavam-se a voz do homem do sertão do Ceará, sua terra natal. Homem sertanejo, cabeça chata, que se orgulhava de sua gente, sua voz ecoava pelos quatro cantos do Nordeste. É dentro desse contexto que Patativa foi incluído na programação da Festa de Nossa Senhora das Dores.
De acordo com o professor Plácido Cidade Nuvens, Patativa foi um dos maiores poetas clássicos do Nordeste. Compôs sonetos eruditos. No entanto, preferia a poesia matuta. São versos escritos na terra seca, com o cabo da enxada, tendo como tinta o suor de seu rosto, o que justifica também, segundo o vigário, a sua identificação com o Grito dos Excluídos, por ser um representante dos marginalizados, complementa.
MAIS INFORMAÇÕES
Cáritas Diocesana do Crato
Rua Coronel Antonio Luiz, 1068
(88) 3521.8046
www.limitedaterra.org.br
fonte: Diário do Nordeste
Foi neste cenário que o padre Vileci Vidal abriu a Festa da Padroeira de Assaré, Nossa Senhora das Dores, e anunciou o “Grito dos Excluídos” que, este ano, defende um plebiscito popular pelo limite da propriedade da terra. O pedido será levado ao Congresso Nacional, em Brasília, para que seja votada uma emenda constitucional que determine um limite ao tamanho das propriedades.
A missa teve início com a leitura de um poema de Patativa sobre reforma agrária. Na plateia, cerca de 300 pessoas, a maioria agricultores, que mostram na face o sofrimento em consequência de sucessivas secas. No altar em frente à casa do poeta, hoje transformada em “Museu do Agricultor”, o celebrante justificou a escolha da localidade para a celebração, afirmando que ali Patativa deu um seu “grito de protesto”, que foi ouvido em todo o Brasil contras as injustiças sociais e, principalmente, contra a concentração de terras.
O padre Vileci destacou o papel de Patativa como defensor dos pobres. Mesmo vivendo numa comunidade rural atrasada, dominada por coronéis que monopolizavam a agricultura, refém do descaso dos governantes, ele nunca abateu seu ânimo: ao contrário, fortaleceu-o ainda mais, tornando-se crítico do modelo econômico, político e social importo ao povo pobre.
Outra virtude do poeta, de acordo com o celebrante, era o seu sentimento religioso, que vem sendo seguido pela família. Todos os filhos e netos de Patativa, que moram na Serra de Santana, estavam presentes. Inês, a filha mais velha, que transcrevia seus poemas, disse que ele nunca perdia a festa da padroeira. Comprou uma casa ao lado da matriz para assistir às novenas, lembrou Inês.
O ritual teve início às 6 horas, com uma cavalgada que saiu da Igreja Matriz de Assaré para a Serra de Santana. No percurso de 20 quilômetros, grupos de cavaleiros se juntaram ao cortejo puxado por um carro de som, tendo a frente o próprio vigário e o prefeito da cidade, Francisco Evanderto Almeida.
Preces
O jovem agricultor Marcos Rodrigues Arrais se deslocou do Sítio Mameluco para acompanhar o grupo. Ia assistir à missa para pedir a Deus um bom inverno em 2011. Ele acrescentou que, este ano, perdeu tudo com a falta de chuvas. “Não colhi, sequer, um saco de milho”. A mesma lamentação é manifestada pelo agricultor Francisco de Assis Dias, residente no Sítio Junco. Dias mostra a roça de milho perdida.
No meio do caminho, alunos da Escola Municipal Antonio Ângelo da Silva encenam uma poesia de Patativa sobre reforma agrária. O secretário de Cultura do Município, Marcos Salmo, lembra a devoção de Patativa à Nossa Senhora das Dores e destaca sua poesia profética em defesa dos pobres. O cortejo segue a sua trajetória, cortando o sertão seco em direção à Serra de Santana, onde outro grupo de devotos de Nossa Senhora das Dores e admiradores de Patativa aguarda os cavaleiros.
Católico praticante, Patativa tinha uma visão moderna de Deus e da religião. Para ele, o sofrimento do nordestino não era um castigo de Deus, mas fruto da ausência de políticas públicas destinas ao homem do campo. No poema “Caboclo Roceiro”, ele reafirma a sua convicção religiosa com estes versos: “Tu és nesta vida o fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/Caboclo não guarda contigo esta crença/A tua sentença não parte do céu/ Tu és nesta vida um fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/ Caboclo não guarda contigo esta crença/ A tua sentença não parte do céu”.
Para o padre Vileci, estes versos refletem a alma do poeta, um sertanejo calejado na luta para traduzir o sentimento do seu povo. Com a mesma coragem com que cavava a terra na luta diária pela sobrevivência, fazia poemas que eram utilizados como arma santa contra os opressores.
Restavam-lhe as palavras que, juntas, tornavam-se a voz do homem do sertão do Ceará, sua terra natal. Homem sertanejo, cabeça chata, que se orgulhava de sua gente, sua voz ecoava pelos quatro cantos do Nordeste. É dentro desse contexto que Patativa foi incluído na programação da Festa de Nossa Senhora das Dores.
De acordo com o professor Plácido Cidade Nuvens, Patativa foi um dos maiores poetas clássicos do Nordeste. Compôs sonetos eruditos. No entanto, preferia a poesia matuta. São versos escritos na terra seca, com o cabo da enxada, tendo como tinta o suor de seu rosto, o que justifica também, segundo o vigário, a sua identificação com o Grito dos Excluídos, por ser um representante dos marginalizados, complementa.
MAIS INFORMAÇÕES
Cáritas Diocesana do Crato
Rua Coronel Antonio Luiz, 1068
(88) 3521.8046
www.limitedaterra.org.br
fonte: Diário do Nordeste