Uma Rede de Comunidades Rua Cel. Pedro Onofre, 11 - Centro Assaré/CE - (88) 3535-1075
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Paróquia realiza Bingão de Natal
O Bingo correrá neste dia 26 de Novembro, em virtude de já haver um bingão no dia 25. Cartelas apenas R$ 5,00. Ressaltando que os brindes são prendas restantes do Leilão da Festa da Padroeira de 2010. Compre já sua cartela e Boa Sorte.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Tarrafas sedia o XXV Dia Nacional da Juventude
No dia 21 de Novembro de 2010 a cidade de Tarrafas sediou o XXV Dia Nacional da Juventude com a participação de cerca de 700 jovens das mais diversas comunidades da Forania V. Estavam representadas as paróquias de São Sebastião de Nova Olinda, Santa Tereza D’Ávila de Altaneira, São José de Potengi, Nossa Senhora da Penha com jovens de Campos Sales e Salitre, Santo Antonio de Antonina do Norte e Nossa Senhora das Dores com jovens de Assaré e Tarrafas com alguns padres, dentre eles: Pe. João Bento de Sousa, Pe. Ronaldo Oliveira, Pe. César Retrão, Pe. Cícero Caboclo e Pe. Tarcisio de Sales além dos seminaristas Thiers, Isaias, Damião e Cícero José, este último, coordenador do Setor Juventude da Diocese.
Em um clima de muita alegria e festa, a massa juvenil foi acolhida a partir das 8h da manhã na Escola Luiz Gonzaga de Alcântara, local onde se concentrou todo o evento. A Banda Mensageiros da Paz da cidade de Jucás se encarregou de fazer ferver o inicio do encontro com louvores e agitação para todos os presentes. Em seguida a missa foi celebrada tendo como presidente o Pe. Ronaldo Oliveira, que declarou aberta as comemorações do DNJ. Enfatizando a presença do jovem na Igreja ele falou que ela precisa deles também na marcha contra a violência. Animada e centrada no espírito litúrgico da celebração. Foi assim que a Banda Sopro Divino, vinda da cidade Maracanaú região metropolitana de Fortaleza, abrilhantou o evento durante a toda a missa, e mais tarde fecharia o evento com um maravilhoso show.
As 11h teve inicio as apresentações artísticas das paróquias presentes, foram cinco, magistralmente espetaculares e focadas ao tema do Dia Nacional da Juventude. A apresentação dos jovens da cidade de Aurora, convidados especiais, foi simplesmente emocionante. Era possível visualizar nos rostos dos que atentos acompanhavam, a expressão de emoção. Concluídas as mesmas, serviu-se o almoço, preparado com muito carinho e trabalho por um recrutamento de mais de 20 pessoas, que desde o dia anterior já estavam pegando no pesado preparando a alimentação, que de forma tranqüila e suficiente saciou a todos.
De forma muita hilária e talvez inesperada, as 13:30h da tarde, entravam em cena num Jornal muito louco os integrantes da comissão organizadora do evento, o chamado Jornal PJ Informa. Na tentativa de prender a atenção do jovem, foi que eles se vestiram de forma cômica e ridícula para apresentar algumas informações relacionadas ao tema e também outras que serviram para colocar sorrisos e gargalhadas nas bocas dos presentes. Não sabe-se se houve aprovação, mas que houve muita risada, com certeza isso teve. As 14:30h com a música da “pipoca”, a Banda Sopro Divino levou a todos ao delírio, o dever estava sendo cumprido e missão concluída. Depois de vários meses de preparação, ansiedade e preocupação, aquele momento em que todos estavam pulando e cantando, se tornara um dos mais marcantes e gratificantes para todos os empenhados na realização do DNJ.
Tarrafas, depois deste, não seriam mais a mesma! Provara para muitos, o potencial que possui em acolher um evento deste porte e principalmente para que aqueles que não acreditavam no êxito do encontro. Tachada muitas vezes como cidade pequena e sem estrutura, os tarrafenses mostraram que possuem organização, amor, solidariedade e, acima de tudo, muita garra para assumir a missão e sim ser paróquia.
Mas na nossa vida sabemos que nem tudo são flores, por isso é valido ressaltar neste, as dificuldades enfrentadas que, de certa forma, comprometeu todo o projeto de realização do DNJ – 2010.
Desde maio alguns jovens tem se reunido para programar a execução do projeto DNJ, que aqui será tido como Pro-D. Agosto foi o mês do “arregaçar as mangas” e assumir de coração o trabalho. Que até aconteceu, mesmo em meio a comodismo, criticas e outros desestímulos. Neste últimos meses o clima de tensão e ansiedade tomou conta de todos, com quase tudo preparado não imaginava-se ainda a imensidão que seria o Pro-D, nas duas semanas que antecederam o evento era avaliado os gastos de forma minuciosa e atenta, já que a expectativa era que conseguiríamos reunir um numero de mais ou menos 500 jovens, coisa que mudou já quase as vésperas. Paróquias confirmaram, outras desistiram, os cálculos previam já 800 jovens no total, quase que o limite para o que se esperava. Com todo o aparato que estava na programação e sem contar com os gastos que faria a Administração daquele município, já passava-se de um orçamento de quase R$ 1.800,00 que seria obtidos através das colaborações feitas pelos jovens e por meio das ajudas provindas das paróquias, pelo menos era o que se aguardava. Na véspera do Pro-D, com praticamente tudo pronto, as barreiras continuavam a aparecer. Mesmo com o empenho de mais de 35 pessoas, desde a coordenação foranea até os voluntários que se uniram para fazer acontecer o Pro-D, o impasse agora seria a omissão por parte de alguns membros da coordenação, o descaso com o evento por parte de algumas paróquias e a dificuldade com relação aos transportes do que participariam do Pro-D. Isso tudo contribuiu para o desanimo e desgaste psicológicos dos que a frente estavam, sem contar o cansaço físico e mental.
No entanto, isso não foi suficiente para abalar os emocionais a ponto de não concluir os preparativos. O DNJ foi um SUCESSO, assim considerado pela grande maioria, e foi um grande momento de louvor e concentração da graça de Deus em meio à juventude.
Tarrafas/Ce, 22 de Novembro de 2010
Ferminio Luciano Galdino de Lima
Pela Coordenação Foranea do Setor Juventude
Paróquia realiza 1º Despertar Juvenil
Aos seis (6) dias do mês de novembro de 2010 sob a motivação do Pe. Ronaldo Oliveira, pároco desta paróquia, se encontraram cerca de 200 jovens para a realização de um grande encontro para a juventude a título de 1º DESPERTAR JUVENIL. O objetivo do mesmo seria “acordar” os jovens no sentido de incentivá-los a aproximar-se mais da nossa igreja. Dentre os que a frente estavam para a organização do evento, destacou-se o Grupo Exército Celestial, existente a mais de um ano, e que não mediu esforços para tal fim. O padre ainda agraciou a todos com a presença da Comunidade Católica Sal da Terra de Juazeiro do Norte, que se fez presente a convite do mesmo. O ministério de música teve suma importância para o êxito do encontro.
Ao som de musicas animadas e aquecidos pelo fogo o Espírito Santo, a juventude foi acolhida no Centro Social Maria de Jesus Oliveira onde foram colhidas brevemente as inscrições para o controle da comissão organizadora, e ingressados num ambiente de muita alegria e festa proporcionado pelos jovens da Sal da Terra. Após muita musica e animação, em um breve texto, o Pe. Ronaldo protagonizou junto aos participantes um dialogo aberto sobre a posição e situação do jovem junto a igreja e falou do seu desejo de formar grupos de jovens vivos e atuantes. Foram palavras ricas e edificantes proferidas pelo sacerdote, visto que foi notória a atenção e recepção dos que ali estavam.
Em seguida, ele abriu um parêntese para que fosse divulgado o assunto do Dia Nacional da Juventude – DNJ, feito pelo jovem Luciano Lima, representante da Forania V no Setor Juventude da Diocese. O mesmo expôs a programação do evento que se realizaria na cidade de Tarrafas, comunidade pertencente a esta paróquia, no dia 21 de Novembro. Convidou todos os jovens a efetuarem sua inscrição até o dia 10 de novembro, falou ainda da contribuição a ser feita em prol das despesas do evento e ainda da Jornada Mundial da Juventude em 2011. Ressaltou a importância da participação deles no encontro que marcaria os 25 anos de celebração do DNJ, cujo tema fecharia o proposto pelo Setor Nacional da Juventude dos últimos 3 anos. Juventude: muita luta, muita reza, muita festa em marcha contra a violência, visto que o jovem se tornou, ao longo dos anos, protagonista ativo e/ou passivo da violência em meio a sociedade.
Embalados pelo o Espírito que os uniu e animou durante todo o encontro, foi chegando ao fim uma noite de bênçãos e graças concedidas por Deus a cada um que ali estava. O ministério Sal da Terra munido da unção do Espírito levou os jovens a oração numa reflexão profunda única, sobre a liberdade de filhos amados de Deus que somos, através da canção “Hoje livre sou” de Walmir Alencar. Após, o Pe. Ronaldo fechou o encontro convidando a todos a ingressarem nos grupos de jovens a serem formados na Paróquia, por meio dos mais variados ministérios.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Zé Lourenço e o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto
11ª ROMARIA AO CALDEIRÃO DO BEATO ZÉ LOURENÇO
TEMA: VIDA EM PRIMEIRO LUGAR
Romaria das Comunidades EClesiais de Base - CEBs
dia 19 (domingo) de setembro de 2010
7:OOHs - Acolhida dos Romeiros (Peregrinos)
7:OOHs - Celebração da Missa
Local> Caldeirão do Beato Zé Lourenço / Crato
Estrada Crato / Farias Brito após Distrito de Ponta da Serra.
Participe
Realização:Eixo Ação Diocese de Crato, CPT, Secretariado do 13° Intereclesia 2013.
A história dos beatos no Nordeste tem inicio com o Pe. Ibiapina. Daí surge, então, beatos como Antonio Conselheiro que se confunde com a história de Canudos na Bahia e tempos mais tardios surge o Caldeirão sobre o comando do Beato José Lourenço que levava uma vida de penitente sob a orientação do Pe. Cícero.
Caldeirão ficava nas terras de herança do Pe. Cicero no município de Crato. Torna-se uma comunidade organizada pelo beato Zé Lourenço com o objetivo de conduzir grupo de trabalhadores rurais a conhecer e viver uma vida digna, abundante pautada pela oração e pelo trabalho. O verdadeiro “milagre do trabalho”, nesta comunidade, foi transformar o solo estéril numa terra produtiva.
A área do Caldeirão era 900 hectares, localizada numa região semiárida com pouca vegetação, solo nu e pobre em nutrientes, topografia acidentada e com vários grotões.
A comunidade do Caldeirão nos inspira na discussão sobre a convivência com o semiárido, considerando que se trata de uma experiência em uma época de extrema miséria no campo devido a impossibilidade que tinham os trabalhadores de acesso a terra perpetuando a super exploração, a miséria e a fome entre os trabalhadores do campo. Mas, na comunidade do Caldeirão se estabelece uma verdadeira agrovila com centenas de casas, dois açudes, engenho de rapadura, casa de farinha, armazém para estocar alimentos, oficinas de marcenaria, ferreiro, aviamento de couro, barro e cerâmica, grande variedade de frutas, cultivo de cereais, criação de bois, porcos, cabras, galinhas, animais de estimação domésticos (cães e gatos) e selvagens domesticados (emas, mocós, papagaios). Todos eram criados com liberdade. Tinha também alguns cavalos para o uso do beato.
Em 1926, a população inicial do Caldeirão era entre 200 a 300 pessoas e teve um aumento considerado com a seca de 1932 quando as pessoas procuravam a comunidade para não morrer de fome. Após a invasão policial em 1936, a população estava entre 1500 e 2000 habitantes.
Os destinatários da comunidade eram os romeiros mais desvalidos, os fugitivos de perseguições, aqueles que precisavam ser reeducados no trabalho e que chegavam a Juazeiro sem perspectiva e o Pe. Cicero destinava para morar com o beato Zé Lourenço. A primeira experiência de comunidade produtiva foi realizada pelo beato no Sítio Baixa Dantas em Crato, numa terra arrendada, que, vendo prosperar num espaço também de dez anos, o proprietário pediu a desocupação e, por conta disso, o padrinho (Pe. Cícero) orientou para que fossem morar em suas terras no Caldeirão.
A utopia da comunidade era abundancia. Os trabalhadores acreditavam que era possível um mundo onde todos desfrutem, igualmente, das riquezas produzidas. Esta crença tratava-se de uma herança espiritual do Pe. Ibiapina que interfere na mudança estrutural religiosa do Cariri na década de 1860 e 1870, substituindo o mundo das profecias assombradas (medo do inferno) pelo realismo da caridade pratica com o lema “nada faltará” pregado pelos beatos e beatas nos sertões nordestinos: bastava trabalhar e dividir os frutos do trabalho que haveria abundancia para todos. Essa foi a utopia também presente em Canudos e pregada pelo beato Antonio Conselheiro que chegou a fazer missão com Pe. Ibiapina em Quixeramobim e Sobral no Ceará.
Tanto Canudos como Caldeirão, expressa vantajosas experiências camponesas de convivência com o semiárido onde tudo era de todos: se produzia muito e se armazenava. Todos trabalhavam em mutirão, comiam-se junto (grupo de mulheres preparava a comida), os trabalhos eram divididos por tarefas segundo a aptidão de cada um. Enquanto uns trabalhavam na roça, outros pastoravam o gado e trabalhavam nas oficinas. E assim havia ocupação para homens e mulheres. Acontecia muita festa no tempo da moagem. E durante o ano, os acontecimentos religiosos ficavam por conta da irmandade da “Santa Cruz do Deserto”.
A comunidade era organizada pelo tripé: trabalho, oração e abundancia. O trabalho está ligado a penitencia e sacrifício, ao passo que abundancia vem como compensação ou recompensa de todo o esforço feito. Era com esse entendimento que o beato educava aquela gente desvalida que lá chegava. O alimento era o de mais sagrado que podia existir, por isso servia tanto para alimentar o corpo como para alimentar a alma. Ali havia fartura e abundancia e não era transformada em mercadoria. Referencia dada pelos remanescentes ao Caldeirão: “lá era lugar de abundancia e tinha tudo do que se precisava”. O que se vendia, com o dinheiro, se comprava medicamento e tecido.
No Caldeirão, o trabalho era voluntário, as pessoas eram livres para escolher aquele estilo de vida, mas não eram livres para explorar os outros, viver a custa da “energia” (do suor) dos outros – mais valia, ou seja, força do trabalho alheio. Portanto, quem não quisesse trabalhar também ali não morava: “lá era só de rezar e comer muito e trabalhar muito”.
Por conta dessa experiência o beato Zé Lourenço foi chicoteado muito pelas autoridades e coronéis da época, por ser camponês pobre e negro. Tanto é verdade que dois anos depois da morte do Pe. Cicero bombardearam o Caldeirão (primeiro bombardeio da FAB que aconteceu no Brasil). Em setembro de 1936 aconteceu a primeira expedição destruindo toda a plantação e roubando os pertences da comunidade e a segunda expedição aconteceu em maio de 1937 quando se deu o bombardeio, destruindo o Caldeirão e matando quase mil pessoas.
O Caldeirão tornou-se sinal de liberdade camponesa onde prosperou uma vida baseada na experiência das primeiras comunidades cristãs (At 2, 42-47). E nos tempos atuais é referencia histórica para as Comunidades Eclesiais de Base e Quilombolas da região. A sua história também se confunde com a história do beato líder José Lourenço que organizou a comunidade com padrões de comportamento e forma de relacionamento que resultou numa rica produção de saberes.
Pe. Vileci Basílio Vidal – CPT
Crato – Setembro 2010
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Cavalgada Ecologica abre a Festa de Assaré
Na Serra de Santana, o espectro da seca ronda o ambiente como ave de rapina em busca de mais uma vítima. A caatinga se espalha no solo estorricado pelo sol. No alto da serra, a casa de taipa onde nasceu o poeta Patativa do Assaré, porta-voz do agricultor sofrido, sem terra, o guerreiro da tribo Cariri que denunciou o flagelo dos seus irmãos nordestinos.
Foi neste cenário que o padre Vileci Vidal abriu a Festa da Padroeira de Assaré, Nossa Senhora das Dores, e anunciou o “Grito dos Excluídos” que, este ano, defende um plebiscito popular pelo limite da propriedade da terra. O pedido será levado ao Congresso Nacional, em Brasília, para que seja votada uma emenda constitucional que determine um limite ao tamanho das propriedades.
A missa teve início com a leitura de um poema de Patativa sobre reforma agrária. Na plateia, cerca de 300 pessoas, a maioria agricultores, que mostram na face o sofrimento em consequência de sucessivas secas. No altar em frente à casa do poeta, hoje transformada em “Museu do Agricultor”, o celebrante justificou a escolha da localidade para a celebração, afirmando que ali Patativa deu um seu “grito de protesto”, que foi ouvido em todo o Brasil contras as injustiças sociais e, principalmente, contra a concentração de terras.
O padre Vileci destacou o papel de Patativa como defensor dos pobres. Mesmo vivendo numa comunidade rural atrasada, dominada por coronéis que monopolizavam a agricultura, refém do descaso dos governantes, ele nunca abateu seu ânimo: ao contrário, fortaleceu-o ainda mais, tornando-se crítico do modelo econômico, político e social importo ao povo pobre.
Outra virtude do poeta, de acordo com o celebrante, era o seu sentimento religioso, que vem sendo seguido pela família. Todos os filhos e netos de Patativa, que moram na Serra de Santana, estavam presentes. Inês, a filha mais velha, que transcrevia seus poemas, disse que ele nunca perdia a festa da padroeira. Comprou uma casa ao lado da matriz para assistir às novenas, lembrou Inês.
O ritual teve início às 6 horas, com uma cavalgada que saiu da Igreja Matriz de Assaré para a Serra de Santana. No percurso de 20 quilômetros, grupos de cavaleiros se juntaram ao cortejo puxado por um carro de som, tendo a frente o próprio vigário e o prefeito da cidade, Francisco Evanderto Almeida.
Preces
O jovem agricultor Marcos Rodrigues Arrais se deslocou do Sítio Mameluco para acompanhar o grupo. Ia assistir à missa para pedir a Deus um bom inverno em 2011. Ele acrescentou que, este ano, perdeu tudo com a falta de chuvas. “Não colhi, sequer, um saco de milho”. A mesma lamentação é manifestada pelo agricultor Francisco de Assis Dias, residente no Sítio Junco. Dias mostra a roça de milho perdida.
No meio do caminho, alunos da Escola Municipal Antonio Ângelo da Silva encenam uma poesia de Patativa sobre reforma agrária. O secretário de Cultura do Município, Marcos Salmo, lembra a devoção de Patativa à Nossa Senhora das Dores e destaca sua poesia profética em defesa dos pobres. O cortejo segue a sua trajetória, cortando o sertão seco em direção à Serra de Santana, onde outro grupo de devotos de Nossa Senhora das Dores e admiradores de Patativa aguarda os cavaleiros.
Católico praticante, Patativa tinha uma visão moderna de Deus e da religião. Para ele, o sofrimento do nordestino não era um castigo de Deus, mas fruto da ausência de políticas públicas destinas ao homem do campo. No poema “Caboclo Roceiro”, ele reafirma a sua convicção religiosa com estes versos: “Tu és nesta vida o fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/Caboclo não guarda contigo esta crença/A tua sentença não parte do céu/ Tu és nesta vida um fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/ Caboclo não guarda contigo esta crença/ A tua sentença não parte do céu”.
Para o padre Vileci, estes versos refletem a alma do poeta, um sertanejo calejado na luta para traduzir o sentimento do seu povo. Com a mesma coragem com que cavava a terra na luta diária pela sobrevivência, fazia poemas que eram utilizados como arma santa contra os opressores.
Restavam-lhe as palavras que, juntas, tornavam-se a voz do homem do sertão do Ceará, sua terra natal. Homem sertanejo, cabeça chata, que se orgulhava de sua gente, sua voz ecoava pelos quatro cantos do Nordeste. É dentro desse contexto que Patativa foi incluído na programação da Festa de Nossa Senhora das Dores.
De acordo com o professor Plácido Cidade Nuvens, Patativa foi um dos maiores poetas clássicos do Nordeste. Compôs sonetos eruditos. No entanto, preferia a poesia matuta. São versos escritos na terra seca, com o cabo da enxada, tendo como tinta o suor de seu rosto, o que justifica também, segundo o vigário, a sua identificação com o Grito dos Excluídos, por ser um representante dos marginalizados, complementa.
MAIS INFORMAÇÕES
Cáritas Diocesana do Crato
Rua Coronel Antonio Luiz, 1068
(88) 3521.8046
www.limitedaterra.org.br
fonte: Diário do Nordeste
Foi neste cenário que o padre Vileci Vidal abriu a Festa da Padroeira de Assaré, Nossa Senhora das Dores, e anunciou o “Grito dos Excluídos” que, este ano, defende um plebiscito popular pelo limite da propriedade da terra. O pedido será levado ao Congresso Nacional, em Brasília, para que seja votada uma emenda constitucional que determine um limite ao tamanho das propriedades.
A missa teve início com a leitura de um poema de Patativa sobre reforma agrária. Na plateia, cerca de 300 pessoas, a maioria agricultores, que mostram na face o sofrimento em consequência de sucessivas secas. No altar em frente à casa do poeta, hoje transformada em “Museu do Agricultor”, o celebrante justificou a escolha da localidade para a celebração, afirmando que ali Patativa deu um seu “grito de protesto”, que foi ouvido em todo o Brasil contras as injustiças sociais e, principalmente, contra a concentração de terras.
O padre Vileci destacou o papel de Patativa como defensor dos pobres. Mesmo vivendo numa comunidade rural atrasada, dominada por coronéis que monopolizavam a agricultura, refém do descaso dos governantes, ele nunca abateu seu ânimo: ao contrário, fortaleceu-o ainda mais, tornando-se crítico do modelo econômico, político e social importo ao povo pobre.
Outra virtude do poeta, de acordo com o celebrante, era o seu sentimento religioso, que vem sendo seguido pela família. Todos os filhos e netos de Patativa, que moram na Serra de Santana, estavam presentes. Inês, a filha mais velha, que transcrevia seus poemas, disse que ele nunca perdia a festa da padroeira. Comprou uma casa ao lado da matriz para assistir às novenas, lembrou Inês.
O ritual teve início às 6 horas, com uma cavalgada que saiu da Igreja Matriz de Assaré para a Serra de Santana. No percurso de 20 quilômetros, grupos de cavaleiros se juntaram ao cortejo puxado por um carro de som, tendo a frente o próprio vigário e o prefeito da cidade, Francisco Evanderto Almeida.
Preces
O jovem agricultor Marcos Rodrigues Arrais se deslocou do Sítio Mameluco para acompanhar o grupo. Ia assistir à missa para pedir a Deus um bom inverno em 2011. Ele acrescentou que, este ano, perdeu tudo com a falta de chuvas. “Não colhi, sequer, um saco de milho”. A mesma lamentação é manifestada pelo agricultor Francisco de Assis Dias, residente no Sítio Junco. Dias mostra a roça de milho perdida.
No meio do caminho, alunos da Escola Municipal Antonio Ângelo da Silva encenam uma poesia de Patativa sobre reforma agrária. O secretário de Cultura do Município, Marcos Salmo, lembra a devoção de Patativa à Nossa Senhora das Dores e destaca sua poesia profética em defesa dos pobres. O cortejo segue a sua trajetória, cortando o sertão seco em direção à Serra de Santana, onde outro grupo de devotos de Nossa Senhora das Dores e admiradores de Patativa aguarda os cavaleiros.
Católico praticante, Patativa tinha uma visão moderna de Deus e da religião. Para ele, o sofrimento do nordestino não era um castigo de Deus, mas fruto da ausência de políticas públicas destinas ao homem do campo. No poema “Caboclo Roceiro”, ele reafirma a sua convicção religiosa com estes versos: “Tu és nesta vida o fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/Caboclo não guarda contigo esta crença/A tua sentença não parte do céu/ Tu és nesta vida um fiel penitente/ Um pobre inocente no banco do réu/ Caboclo não guarda contigo esta crença/ A tua sentença não parte do céu”.
Para o padre Vileci, estes versos refletem a alma do poeta, um sertanejo calejado na luta para traduzir o sentimento do seu povo. Com a mesma coragem com que cavava a terra na luta diária pela sobrevivência, fazia poemas que eram utilizados como arma santa contra os opressores.
Restavam-lhe as palavras que, juntas, tornavam-se a voz do homem do sertão do Ceará, sua terra natal. Homem sertanejo, cabeça chata, que se orgulhava de sua gente, sua voz ecoava pelos quatro cantos do Nordeste. É dentro desse contexto que Patativa foi incluído na programação da Festa de Nossa Senhora das Dores.
De acordo com o professor Plácido Cidade Nuvens, Patativa foi um dos maiores poetas clássicos do Nordeste. Compôs sonetos eruditos. No entanto, preferia a poesia matuta. São versos escritos na terra seca, com o cabo da enxada, tendo como tinta o suor de seu rosto, o que justifica também, segundo o vigário, a sua identificação com o Grito dos Excluídos, por ser um representante dos marginalizados, complementa.
MAIS INFORMAÇÕES
Cáritas Diocesana do Crato
Rua Coronel Antonio Luiz, 1068
(88) 3521.8046
www.limitedaterra.org.br
fonte: Diário do Nordeste
Assaré se prepara para festejar a sua padroeira Nossa Senhora das Dores

A iniciativa é do ex-pároco de Assaré, o Pe. Vileci Vidal, que realizou a primeira ano passado e esse ano retorna a cidade recém deixada para o evento. O tema que o vigário tratará na Celebração, além do tema da festa da padroeira (Amparados por Maria a missão continua... "Eis ai tua mãe!" Jo 19,27), ele dará em mais um ano o Grito dos Excluídos falando também do plebiscito popular em favor do limite da propriedade da Terra.
Na programação social da Festa 2010, além de bingos e venda de comidas tipicas na tradicional barraca da santa, o Grande Leilão acontecerá no dia 14/09, onde são esperados os representantes políticos regionais e a população em Geral.
O Pe. Ronaldo que recentemente assumiu os trabalhos na paróquia afirma que a programação será cumprida de acordo com o que já foi preparado e por isso não iria modificar nenhuma atividade e espera bom êxito tanto na parte religiosa, principalmente, quando na parte social.
A Festa de Nossa Senhora será encerrada no dia 15 de Setembro, feriado local, com duas missas: a solene as 09h da manhã e às 16h onde logo após dar-se-á a grande procissão da santa pelas ruas da cidade.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Santuário Missionário visita quase todas a comunidades da Paróquia de Assaré
Após o encerramento do Projeto SMP na Diocese do Crato iniciou-se naquele momento uma nova missão. A missão continental que consistiria em fazer acontecer a peregrinação do Triptico Missionário ou Santuário Missinário com um novo lema onde " A missão continua...". Um forma de preparar todo o povo de Deus da nossa Diocese para o seu Centenário que acontecerá em 2014. Para isso, o Bispo Dom Fernando envia todos os que participaram das Santas Missões para junto ao Santuário implantar em todos os cantos da Diocese a Léctio Divina ou Leitura Orante da Bíblia.
Após aguardar formação e orientação vindas do Eixo Palavra e Sacramento, começou a peregrinação do Triptico Missionário, nos setores e comunidades da Paróquia de Nossa Senhora das Dores de Assaré. Momento que proporcionou a todos que puderam participar um contato maior com a Palavra de Deus como forma de instruir, formar e orientar o povo que caminha nas estradas do mundo rumo ao céu.
Após aguardar formação e orientação vindas do Eixo Palavra e Sacramento, começou a peregrinação do Triptico Missionário, nos setores e comunidades da Paróquia de Nossa Senhora das Dores de Assaré. Momento que proporcionou a todos que puderam participar um contato maior com a Palavra de Deus como forma de instruir, formar e orientar o povo que caminha nas estradas do mundo rumo ao céu.
Retiro do Clero acontece em Quixadá em Julho de 2010
De 5 a 9 de Julho na Casa de Retiro Rainha do Sertão em Quixadá, quase 70 padres da Diocese de Crato estiveram em oração no Retiro do Clero. Como acontece anualmente, o Bispo Dom Fernando Panico achou por bem não realizá-lo no Cariri.
Na ocasião várias decisões foram tomadas e vários encaminhamentos obtidos. Dentres estas, algumas transferências de padres. Das quais destacamos: a saída do Pe. Vileci Basilio Vidal da Paróquia de N. S. das Dores de Assaré, em virtude de assumir a nível nacional e internacional o Secretariado Nacional do XIII Intereclesial das CEB's a realizar-se em 2013; e com isso a vinda do Pe. Ronaldo do Nascimento Oliveira, para arebanhar os paroquianos da Mãe das Dores; a saída também do Pe. Cícero Mariano de Lima, convidado a integrar-se a equipe de padres da Basilica Menor de Juazeiro do Norte, e com isso a vinda do Pe. João Bento Leite de Sousa para assumir a missão na Área Pastoral de Tarrafas, e ainda a chegada do Pe. Cícero Caboclo vindo da Ponta da Serra para conduzir os paroquiano de São José em Potengi, após reforma e pintura da Igreja Matriz daquela cidade.
Com isso, todas as tranferências e celebrações de posse aconteceram do decorrer do mês de agosto. Em Assaré, o Pe. Ronaldo, que já havia feito pastoral na cidade, foi acolhido na noite do dia 18 em meio a muita festa, fogos e banda de música. A celebração contou com a presença do Bispo Diocesano Dom Fernando, dos padres: César de Antonina do Norte, Bento de Tarrafas, Cícero Caboclo de Potengi, Cabral de Assaré e ainda do Diácono Auricélio Brito, do Amaro. Contou também com a participação das autoridades de Assaré e Potengi e de uma caravana que veio da cidade antecessora do Pe. Ronaldo.
Na ocasião várias decisões foram tomadas e vários encaminhamentos obtidos. Dentres estas, algumas transferências de padres. Das quais destacamos: a saída do Pe. Vileci Basilio Vidal da Paróquia de N. S. das Dores de Assaré, em virtude de assumir a nível nacional e internacional o Secretariado Nacional do XIII Intereclesial das CEB's a realizar-se em 2013; e com isso a vinda do Pe. Ronaldo do Nascimento Oliveira, para arebanhar os paroquianos da Mãe das Dores; a saída também do Pe. Cícero Mariano de Lima, convidado a integrar-se a equipe de padres da Basilica Menor de Juazeiro do Norte, e com isso a vinda do Pe. João Bento Leite de Sousa para assumir a missão na Área Pastoral de Tarrafas, e ainda a chegada do Pe. Cícero Caboclo vindo da Ponta da Serra para conduzir os paroquiano de São José em Potengi, após reforma e pintura da Igreja Matriz daquela cidade.
Com isso, todas as tranferências e celebrações de posse aconteceram do decorrer do mês de agosto. Em Assaré, o Pe. Ronaldo, que já havia feito pastoral na cidade, foi acolhido na noite do dia 18 em meio a muita festa, fogos e banda de música. A celebração contou com a presença do Bispo Diocesano Dom Fernando, dos padres: César de Antonina do Norte, Bento de Tarrafas, Cícero Caboclo de Potengi, Cabral de Assaré e ainda do Diácono Auricélio Brito, do Amaro. Contou também com a participação das autoridades de Assaré e Potengi e de uma caravana que veio da cidade antecessora do Pe. Ronaldo.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Lectio Divina & Missão Continental
A Lectio Divina supõe alguns princípios:
· a unidade da Escritura,
· atualidade ou encarnação da Palavra e a Fé em Jesus Cristo, vivo na Comunidade.
Os quatro degraus pedem que o leitor fique atento à:
1. LEITURA: ler o texto várias vezes até criar uma maior familiaridade. Pronunciar bem as palavras. Entrar em contato com o texto utilizando-se de muita atenção, respeito, escuta... Sugerimos que essa leitura também seja criteriosa, evitando e até excluindo uma leitura fundamentalista. É preciso ver o texto dentro do seu contexto e origem.
2. MEDITAÇÃO: Esse passo é um convite para que atualizemos o texto e consigamos trazê-lo para dentro do horizonte da nossa vida e realidade. A meditação é um ótimo espaço para que se medite e reflita o que há de semelhante e diferente entre a situação do texto com o hoje. Depois, é importante resumir tudo o que foi ruminado numa frase. Essa frase o ajudará a recordar durante o dia o que foi meditado. É um prolongamento da meditação. Aos poucos vai havendo uma relação do que foi meditado com a vida de quem está meditando.
3. ORAÇÃO: Praticamente a oração está presente em todas as etapas. É importante que haja uma transparência no ato da oração e que o orante seja realista. Ele pode usar o momento tanto para louvor, ação de graças, súplica, pedido de perdão, rezar algum salmo, recitar preces já existentes. É importante que esse momento possa ajudá-lo na reflexão da frase escolhida.
4. CONTEMPLAÇÃO: depois de ler, meditar e orar o texto bíblico e sua realidade, chegou a hora de contemplar todo esse percorrido. "A contemplação nos ajuda a entender que Deus está presente na realidade". Pela contemplação é possível perceber a presença de Deus. E com isso somos convidados ao compromisso com a realidade.
Resumindo:
· A leitura responde a pergunta: O que diz o texto?
· A meditação responde: O que diz o texto para mim, para nós?
· A oração responde: O que o texto me faz dizer a Deus?
· E a contemplação ajuda a responder: Estou pronto para nova missão?
Os quatro degraus seguem um dinamismo onde a cada momento o leitor da Bíblia é convidado a recomeçar todo o processo. Quem deseja conhecer melhor esse método adquira a coleção "Tua Palavra é Vida", editora Loyola. Essa coleção faz uma caminhada pela História da Salvação, narrada na Bíblia.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Assaré no Painel FUNARTE de Regência de Corais
Com quase 7 dias ausente, Luciano Lima, um dos idealizadores deste blog, e sub-secretário da Paróquia de Assaré, está participando do Painel Funarte de Regência Coral na cidade de Crato que começou no último dia 24/05. A idéia é que ao retornar possa ser desenvolvido na Paróquia uma formação de Canto Coral para poder quem sabe, fundar um Coro para apresentações locais. O Painel encerra-se no próximo sábado 29/05 com um Concerto Aberto para todos os públicos no Teatro Municipal de Crato. É esperado várias pessoas de todas as regiões para a apresentação. Desde já contamos com o apoio de todos para o desenvolvimento deste trabalho voltado para todas as faixas etárias e de tamanha riqueza para a cultura regional.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Mensagem ao povo de Deus sobre as CEB's (II)
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL
48ª Assembleia Geral da CNBB
Brasília, 4 a 13 de maio de 2010 48ª AG(Doc)
MENSAGEM AO POVO DE DEUS SOBRE AS
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE
Introdução
“As Comunidades Eclesiais de Base”, dizíamos em 1982, constituem “em nosso país, uma realidade que expressa um dos traços mais dinâmicos da vida da Igreja (...)” (Comunidades Eclesiais de Base na Igreja do Brasil, CNBB, doc. 25,1). Após a Conferência de Aparecida (2007) e o 12º Intereclesial (Porto Velho-2009), queremos oferecer a todos os nossos irmãos e irmãs uma mensagem de animação, embora breve, para a caminhada de nossas CEBs.
Queremos reafirmar que elas continuam sendo um “sinal da vitalidade da Igreja” (RM 51). Os discípulos e as discípulas de Cristo nelas se reúnem para uma atenta escuta da Palavra de Deus, para a busca de relações mais fraternas, para celebrar os mistérios cristãos em sua vida e para assumir o compromisso de transformação da sociedade. Além disso, como afirma Medellín, as comunidades de base são “o primeiro e fundamental núcleo eclesial (...), célula inicial da estrutura eclesial e foco de evangelização e, atualmente, fator primordial da promoção humana (...)” (Medellín 15).
Por isso, “Como pastores, atentos à vida da Igreja em nossa sociedade, queremos olhá-las com carinho, estar à sua escuta e tentar descobrir através de sua vida, tão intimamente ligada à história do povo no qual elas estão inseridas, o caminho que se abre diante delas para o futuro”. (CNBB 25,5)
Os desafios postos às CEBs hoje: a sociabilidade básica no clima cultural contemporâneo
Com as grandes mudanças que estão acontecendo no mundo inteiro e em nosso país, as CEBs enfrentam hoje novos desafios: numa sociedade globalizada e urbanizada, como viver em comunidade? Nascidas num contexto ainda em grande parte rural, serão capazes de se adaptar aos centros urbanos, que têm um ritmo de vida diferente e são caracterizados por uma realidade plural? Dentro desse contexto, há outro desafio: como transmitir às novas gerações as experiências e valores das gerações anteriores, inclusive a fé e o modo de vivê-la? Só uma Igreja com diferentes jeitos de viver a mesma Fé será capaz de dialogar relevantemente com a sociedade contemporânea.
O século XX foi, sem dúvida, o século da globalização. Suas consequências para a vida cotidiana são tantas que hoje se fala que o mundo vive não mais uma época de mudanças, mas “uma mudança de época, cujo nível mais profundo é o cultural” (DAp 44). De fato, “a ciência e a técnica quando colocadas exclusivamente a serviço do mercado (...) criam uma nova visão da realidade” (DAp 45), mas isso não significa um passo em direção ao desenvolvimento integral proposto pela encíclica Populorum progressio e reafirmado pelo Papa Bento XVI em Caritas in Veritate, porque a lógica do mercado corrói a estrutura de sociabilidade básica que se expressa nas relações de tipo comunitário. À medida que ele avança, expulsa as relações de cooperação e solidariedade e introduz relações de competição nas quais o mais forte é quem leva vantagem.
Desta forma, é preciso valorizar as experiências de sociabilidade básica: as relações fundadas na gratuidade que se expressa na dinâmica de oferecer-receber-retribuir. O cultivo da reciprocidade tem como espaço primeiro aquele onde a vizinhança territorial é importante para a vida cotidiana, como em áreas rurais, bairros de periferia e favelas. É a solidariedade entre vizinhos – melhor dizendo, entre vizinhas – que assegura o cuidado com crianças, idosos e doentes, por exemplo. Não por acaso, esses espaços periféricos favorecem o desenvolvimento de associações de vizinhança e movimentos que reivindicam melhorias de equipamento urbano, bem como das próprias Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). São as relações de reciprocidade que, promovendo a solidariedade que é a força dos pobres e pequenos, permite que se diga que "gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias".
O percurso histórico das CEBs no Brasil
A experiência das CEBs não surgiu de um planejamento prévio, mas de um impulso renovador, como um sopro do Espírito, já presente na Igreja no Brasil. Esse impulso renovador se manifesta de forma crescente nos anos 50 e 60 do século 20. Na verdade, os tempos se tornaram maduros para uma nova consciência histórica e eclesial: primeiro, pela emergência de um novo sujeito social na sociedade brasileira, o sujeito popular, que ansiava à participação; segundo, pela emergência de um novo sujeito eclesial, portador de uma nova consciência na Igreja. Ele ansiava participar ativa e corresponsavelmente da vida e da missão da Igreja. Esse sujeito provoca novas descobertas e conversões pastorais (CNBB 25,7).
Nelas se revigoravam ou restauravam as relações de reciprocidade, de modo a favorecer a reconstrução das estruturas da vida cotidiana, do mundo da vida, em um contexto social adverso. A interação entre a CEB enquanto organismo eclesial e a comunidade local de vizinhos é uma das grandes contribuições da Igreja à conquista dos direitos de cidadania em nosso País. Ao acolher pastoralmente a população rural ou migrante em capelas e salões improvisados nos quais elas se sentissem “em casa”, a Igreja lhes ofereceu uma possibilidade de organizar-se autonomamente, quando as empresas e os poderes públicos só viam nela o potencial de mão-de-obra a ser empregada no processo de industrialização.
A experiência dos Intereclesiais
Os Encontros Intereclesiais das CEBs são patrimônio teológico e pastoral da Igreja no Brasil. Desde a realização do primeiro, em 1975 (Vitória – ES), reúnem diversas dioceses para troca de experiência e reflexão teológica e pastoral acerca da caminhada das CEBs. Foram doze encontros nacionais, diversos encontros de preparação em várias instâncias (paróquias, dioceses, regionais) e, desde a realização do 8º Intereclesial ocorrido em Santa Maria – RS (1992), são realizados seminários de preparação e aprofundamento dos temas ligados ao encontro.
Manifestação visível da eclesialidade das CEBs, os Encontros Intereclesiais congregam bispos, religiosos e religiosas, presbíteros, assessores e assessoras, animadores e animadoras de comunidades, bem como convidados de outras igrejas cristãs e tradições religiosas. Neles se expressa a comunhão entre os fiéis e seus pastores.
Espiritualidade e vivência eucarística
“O Concílio Vaticano II, eminentemente pastoral, provocou um grande impacto na Igreja. Suas grandes idéias-chaves trouxeram a fundamentação teológica para a intuição, já sentida na prática, de que a renovação pastoral deve se fazer a partir da renovação da vida comunitária e de que a comunidade deve se tornar instrumento de evangelização”. (CNBB 25,11)
A exigência do Vaticano II é de razão estritamente teológica, de ordem trinitária. A essência íntima de Deus não é a solidão, mas a comunhão de três divinas Pessoas. A comunhão – koinonia, communio – constitui a realidade e a categoria fundamental que permeia todos os seres e que melhor traduz a presença do Deus-Trindade no mundo. É a comunhão que faz a Igreja ser “comunidade de fiéis”. Por isso, o Vaticano II faz derivar a união do Povo de Deus da unidade que vigora entre as três divinas Pessoas (LG 4).
A Trindade nos coloca, desde o início, no coração do mistério de comunhão. O Papa João Paulo II, falando aos bispos em Puebla, em 28 de janeiro de 1979, proclamou: “Nosso Deus em seu mistério mais íntimo não é uma solidão, mas uma família... e a essência da família é o amor”. A comunhão e a comunidade devem estar presentes em todas as manifestações humanas e em todas as concretizações eclesiais.
Por isso mesmo, a Eucaristia está no centro da vida de nossas comunidades de base. É o sacramento que expressa comunhão e participação de todos e todas, como numa grande família, ao redor da Mesa do Pai. Há comunidades que recebem a comunhão eucarística graças a presença do Santíssimo no local ou pelo serviço de um ministro extraordinário da sagrada comunhão. Como nossas CEBs, em sua maioria, “não têm oportunidade de participar da Eucaristia dominical”, por falta de ministros ordenados, “elas podem alimentar seu já admirável espírito missionário participando da ‘celebração dominical da Palavra’, que faz presente o mistério pascal no amor que congrega (cf. 1 Jo 3, 14), na Palavra acolhida (cf. Jo 5, 24-25) e na oração comunitária (cf. Mt 18,20)” (DAp 253).
A realidade das CEBs se expressa na liturgia e também na diaconia e na profecia. A diaconia educa, cura as feridas, multiplica e distribui o pão e chama para a solidariedade e a comunhão. A profecia anuncia o desígnio de Deus e denuncia os abusos, a mentira, a injustiça, a exploração e exige a conversão. Por isso, sofre perseguição, difamação, morte.
Temos duas testemunhas recentes desse duplo ministério dos discípulos e discípulas de Jesus Cristo: Dra. Zilda Arns e Irmã Dorothy Stang. Há muito conhecidas por nossas comunidades pobres pelo Brasil afora, elas inspiraram a ação das CEBs. Elas entregaram a vida e nos deixaram seu testemunho de fé e amor aos pobres, fracos, desamparados e discriminados.
Esta espiritualidade também possibilitou a produção de uma rica manifestação artística em nossas comunidades – músicas, poesias, pinturas, símbolos – típicos da prática religiosa e cultural de nosso povo, e que também são instrumentos de evangelização e de missão.
Vivência e Anúncio da Palavra de Deus e o Testemunho de fé
“A Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). A acolhida da Palavra de Deus e a vivência comunitária da fé são indissociáveis nas CEBs. A Bíblia faz parte do dia-a-dia da comunidade, estando presente nos grupos e pastorais, nas liturgias e na formação, na reza e nas ações que visam superar as desigualdades e injustiças da sociedade brasileira.
São espaços privilegiados de leitura bíblica nas CEBs os círculos bíblicos e grupos de reflexão. Neles o povo se coloca como sujeito eclesial, assume seu lugar na comunidade e na sociedade. O protagonismo dos leigos nas CEBs é expressão viva de uma Igreja que se renova animada pelo Espírito Santo, é também um sinal de que no discipulado estão surgindo novos ministérios e serviços.
“O ministério da Palavra exige o ministério da catequese a todos porque ‘fortalece a conversão inicial e permite que os discípulos missionários possam perseverar na vida cristã e na missão em meio ao mundo que os desafia’” (DGAE 64; DAp 278c). A vida em comunidade já é uma forma de catequese. Ela predispõe para o aprofundamento da fé e da vida cristã por meio do ministério da catequese e também pelo testemunho fraterno de seus membros.
Solidariedade e serviço
Alimentadas pela Palavra de Deus e pela vivência de comunhão, as CEBs promovem solidariedade e serviço. Reunindo pessoas humildes, as CEBs ajudam a Igreja a estar mais comprometida com a vida e o sofrimento dos pobres, como fez Jesus. Elas manifestam, mais claramente, que “o serviço dos pobres é medida privilegiada, embora não exclusiva, do seguimento de Cristo” (DP 1145).
Mais ainda, o surgimento das CEBs, junto com o compromisso com os mais necessitados, ajudou a Igreja a “descobrir o potencial evangelizador dos pobres”, primeiro, porque interpelam a Igreja, chamando-a à conversão; segundo, porque “realizam em sua vida os valores evangélicos da solidariedade, serviço, simplicidade e disponibilidade para acolher o dom de Deus” (DP 1147). As vocações religiosas e sacerdotais despertadas pelas CEBs sinalizam vitalidade espiritual, comunhão eclesial e um novo estímulo de consagração a Deus.
A formação dos discípulos missionários
Na sua experiência já amadurecida, as CEBs querem ser Igreja como o Concílio Vaticano II desejou: uma Igreja toda ministerial a serviço do Reino de Deus. A formação do discípulo missionário começa dentro delas pela experiência de um encontro feliz e alegre com a pessoa de Jesus, sua vida e seu destino. Como Jesus convocou discípulos e discípulas para estarem com ele, do mesmo modo, ele convoca também hoje discípulos e discípulas para estarem com ele e dele aprenderem o amor ao Pai, a fidelidade ao Espírito e o compromisso para a transformação do mundo em mundo de irmãos e irmãs.
Por sua capacidade de cuidar da formação da própria comunidade e de olhar, com compaixão, a realidade, as CEBs podem e devem ser cada vez mais escolas que ajudam “a formar cristãos comprometidos com sua fé; discípulos e missionários do Senhor, como o testemunha a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos de seus membros” (DAp 178).
A participação nos movimentos sociais, de cidadania, de defesa do meio ambiente em vista da construção do Reino de Deus
No que diz respeito à relação das CEBs com a dimensão sociopolítica da evangelização, o Sínodo sobre A Justiça no Mundo, de 1971, já tinha afirmado que “a ação pela justiça e a participação na transformação do mundo nos aparecem claramente como uma dimensão constitutiva da pregação do Evangelho, isto é, da missão da Igreja pela redenção do gênero humano e a libertação de toda situação de opressão” (introd.). Em vista disso, a Igreja no Brasil exorta as CEBs e demais comunidades eclesiais a se manterem fiéis à própria fé, no conteúdo e nos métodos, na busca da libertação plena, superando a tentação “de reduzir a missão da Igreja às dimensões de um projeto puramente temporal” (CNBB 25,64ss; Cf. EN 32).
Em relação à aproximação das CEBs com os movimentos populares na luta pela justiça, o documento 25 da CNBB afirmava que elas “não podem arrogar-se o monopólio do Reino de Deus”. Na verdade, a CEB deve tomar consciência de que, “como Igreja, é sinal e instrumento do Reino, é aquela pequena porção do povo de Deus onde a Palavra de Deus é acolhida e celebrada nos sacramentos ... sobretudo na Eucaristia” (70ss). As CEBs buscam, sim, a “colaboração fraterna com pessoas e grupos que lutam pelos mesmos valores” (73).
As CEBs têm despertado em muitos dos seus membros a espiritualidade do cuidado para com a vida dos seres humanos, de todas as formas de vida e a vida do Planeta Terra. A espiritualidade do cuidado tem motivado o surgimento de gestos e atitudes éticas de respeito, de veneração, de ternura, de cooperação solidária, de parceria, que promovam a inclusão de todos e de tudo no mistério da vida.
As CEBs promovem a participação ativa de seus membros nos grupos de economia popular solidária, resgatando o sentido originário da economia como a atividade destinada a garantir a base material da vida pessoal, familiar, social e espiritual. Contribui assim para que o trabalho humano, além de ser o lugar de edificação da dignidade humana e promoção da justiça social, seja também responsável pela promoção do desenvolvimento sustentável.
Espírito de abertura ecumênica e diálogo interreligioso
Uma das dimensões da espiritualidade cultivadas pelas CEBs é a do diálogo ecumênico e interreligioso, que se dá pela abertura ao mundo do outro, promovendo a unidade na diversidade e buscando as semelhanças na diferença. Esta espiritualidade dialogal tem sido assumida pelas CEBs como uma missão de fraternidade cristã, numa atitude de profundo respeito às demais manifestações religiosas, em busca da comunhão universal. Essa espiritualidade nasce do desejo expresso por Jesus: "Que todos sejam um!" (Jo 17,21)
Formação de rede de comunidades
Os membros das CEBs são discípulos de Cristo e ajudam a formar outras comunidades. Em meio a grandes extensões geográficas e populacionais, a comunidade eclesial de base requer que as relações sejam de fraternidade, partilha de vida, de bens e da própria experiência de fé. Ela deve provocar um encontro permanente com a Palavra de Deus e celebrar na liturgia, na alegria e na festa, a salvação que Jesus Cristo nos trouxe.
A experiência da fé e da participação faz amadurecer a comunidade eclesial de base, e lhe confere características próprias de modo a levá-la a um relacionamento fraterno de igualdade com as demais comunidades pertencentes à mesma paróquia. Com isso, a matriz-paroquial ganha maior relevância pastoral na medida em que passa a exercer a função de articuladora das comunidades.
Exortamos que a paróquia procure se transformar em “rede de comunidades e grupos, capazes de se articular conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos missionários de Jesus Cristo em comunhão” (DAp 172), tendo por modelo as primeiras comunidades cristãs retratadas nos Atos dos Apóstolos (At 2 e 4). Assim, a paróquia será mais viva, junto com suas comunidades, coordenadas por leigos ou leigas, por diáconos permanentes, animadas por religiosos e religiosas, e que tenham no Conselho Pastoral Paroquial, presidido pelo pároco, seu principal articulador pastoral.
Conclusão
Em comunhão com outras células vivas da Igreja, comunidades de discípulos e discípulas geradas pelo encontro com Jesus Cristo, Palavra feito carne (cf. Jo 1,14), como são os movimentos, as novas comunidades, as pequenas comunidades, que integram a rede de comunidades que a paróquia é chamada a ser, reafirmamos aqui o que está escrito no Documento 25 da CNBB: “Ao concluir estas reflexões, desejamos agradecer a Deus pelo dom que as CEBs são para a vida da Igreja no Brasil, pela união existente entre os nossos irmãos e seus pastores, e pela esperança de que este novo modo de ser Igreja vá se tornando sempre mais fermento de renovação em nossa sociedade”. (94)
Brasília-DF, 12 de maio de 2010
(Dalvirene Ari)
48ª Assembleia Geral da CNBB
Brasília, 4 a 13 de maio de 2010 48ª AG(Doc)
MENSAGEM AO POVO DE DEUS SOBRE AS
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE
Introdução
“As Comunidades Eclesiais de Base”, dizíamos em 1982, constituem “em nosso país, uma realidade que expressa um dos traços mais dinâmicos da vida da Igreja (...)” (Comunidades Eclesiais de Base na Igreja do Brasil, CNBB, doc. 25,1). Após a Conferência de Aparecida (2007) e o 12º Intereclesial (Porto Velho-2009), queremos oferecer a todos os nossos irmãos e irmãs uma mensagem de animação, embora breve, para a caminhada de nossas CEBs.
Queremos reafirmar que elas continuam sendo um “sinal da vitalidade da Igreja” (RM 51). Os discípulos e as discípulas de Cristo nelas se reúnem para uma atenta escuta da Palavra de Deus, para a busca de relações mais fraternas, para celebrar os mistérios cristãos em sua vida e para assumir o compromisso de transformação da sociedade. Além disso, como afirma Medellín, as comunidades de base são “o primeiro e fundamental núcleo eclesial (...), célula inicial da estrutura eclesial e foco de evangelização e, atualmente, fator primordial da promoção humana (...)” (Medellín 15).
Por isso, “Como pastores, atentos à vida da Igreja em nossa sociedade, queremos olhá-las com carinho, estar à sua escuta e tentar descobrir através de sua vida, tão intimamente ligada à história do povo no qual elas estão inseridas, o caminho que se abre diante delas para o futuro”. (CNBB 25,5)
Os desafios postos às CEBs hoje: a sociabilidade básica no clima cultural contemporâneo
Com as grandes mudanças que estão acontecendo no mundo inteiro e em nosso país, as CEBs enfrentam hoje novos desafios: numa sociedade globalizada e urbanizada, como viver em comunidade? Nascidas num contexto ainda em grande parte rural, serão capazes de se adaptar aos centros urbanos, que têm um ritmo de vida diferente e são caracterizados por uma realidade plural? Dentro desse contexto, há outro desafio: como transmitir às novas gerações as experiências e valores das gerações anteriores, inclusive a fé e o modo de vivê-la? Só uma Igreja com diferentes jeitos de viver a mesma Fé será capaz de dialogar relevantemente com a sociedade contemporânea.
O século XX foi, sem dúvida, o século da globalização. Suas consequências para a vida cotidiana são tantas que hoje se fala que o mundo vive não mais uma época de mudanças, mas “uma mudança de época, cujo nível mais profundo é o cultural” (DAp 44). De fato, “a ciência e a técnica quando colocadas exclusivamente a serviço do mercado (...) criam uma nova visão da realidade” (DAp 45), mas isso não significa um passo em direção ao desenvolvimento integral proposto pela encíclica Populorum progressio e reafirmado pelo Papa Bento XVI em Caritas in Veritate, porque a lógica do mercado corrói a estrutura de sociabilidade básica que se expressa nas relações de tipo comunitário. À medida que ele avança, expulsa as relações de cooperação e solidariedade e introduz relações de competição nas quais o mais forte é quem leva vantagem.
Desta forma, é preciso valorizar as experiências de sociabilidade básica: as relações fundadas na gratuidade que se expressa na dinâmica de oferecer-receber-retribuir. O cultivo da reciprocidade tem como espaço primeiro aquele onde a vizinhança territorial é importante para a vida cotidiana, como em áreas rurais, bairros de periferia e favelas. É a solidariedade entre vizinhos – melhor dizendo, entre vizinhas – que assegura o cuidado com crianças, idosos e doentes, por exemplo. Não por acaso, esses espaços periféricos favorecem o desenvolvimento de associações de vizinhança e movimentos que reivindicam melhorias de equipamento urbano, bem como das próprias Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). São as relações de reciprocidade que, promovendo a solidariedade que é a força dos pobres e pequenos, permite que se diga que "gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias".
O percurso histórico das CEBs no Brasil
A experiência das CEBs não surgiu de um planejamento prévio, mas de um impulso renovador, como um sopro do Espírito, já presente na Igreja no Brasil. Esse impulso renovador se manifesta de forma crescente nos anos 50 e 60 do século 20. Na verdade, os tempos se tornaram maduros para uma nova consciência histórica e eclesial: primeiro, pela emergência de um novo sujeito social na sociedade brasileira, o sujeito popular, que ansiava à participação; segundo, pela emergência de um novo sujeito eclesial, portador de uma nova consciência na Igreja. Ele ansiava participar ativa e corresponsavelmente da vida e da missão da Igreja. Esse sujeito provoca novas descobertas e conversões pastorais (CNBB 25,7).
Nelas se revigoravam ou restauravam as relações de reciprocidade, de modo a favorecer a reconstrução das estruturas da vida cotidiana, do mundo da vida, em um contexto social adverso. A interação entre a CEB enquanto organismo eclesial e a comunidade local de vizinhos é uma das grandes contribuições da Igreja à conquista dos direitos de cidadania em nosso País. Ao acolher pastoralmente a população rural ou migrante em capelas e salões improvisados nos quais elas se sentissem “em casa”, a Igreja lhes ofereceu uma possibilidade de organizar-se autonomamente, quando as empresas e os poderes públicos só viam nela o potencial de mão-de-obra a ser empregada no processo de industrialização.
A experiência dos Intereclesiais
Os Encontros Intereclesiais das CEBs são patrimônio teológico e pastoral da Igreja no Brasil. Desde a realização do primeiro, em 1975 (Vitória – ES), reúnem diversas dioceses para troca de experiência e reflexão teológica e pastoral acerca da caminhada das CEBs. Foram doze encontros nacionais, diversos encontros de preparação em várias instâncias (paróquias, dioceses, regionais) e, desde a realização do 8º Intereclesial ocorrido em Santa Maria – RS (1992), são realizados seminários de preparação e aprofundamento dos temas ligados ao encontro.
Manifestação visível da eclesialidade das CEBs, os Encontros Intereclesiais congregam bispos, religiosos e religiosas, presbíteros, assessores e assessoras, animadores e animadoras de comunidades, bem como convidados de outras igrejas cristãs e tradições religiosas. Neles se expressa a comunhão entre os fiéis e seus pastores.
Espiritualidade e vivência eucarística
“O Concílio Vaticano II, eminentemente pastoral, provocou um grande impacto na Igreja. Suas grandes idéias-chaves trouxeram a fundamentação teológica para a intuição, já sentida na prática, de que a renovação pastoral deve se fazer a partir da renovação da vida comunitária e de que a comunidade deve se tornar instrumento de evangelização”. (CNBB 25,11)
A exigência do Vaticano II é de razão estritamente teológica, de ordem trinitária. A essência íntima de Deus não é a solidão, mas a comunhão de três divinas Pessoas. A comunhão – koinonia, communio – constitui a realidade e a categoria fundamental que permeia todos os seres e que melhor traduz a presença do Deus-Trindade no mundo. É a comunhão que faz a Igreja ser “comunidade de fiéis”. Por isso, o Vaticano II faz derivar a união do Povo de Deus da unidade que vigora entre as três divinas Pessoas (LG 4).
A Trindade nos coloca, desde o início, no coração do mistério de comunhão. O Papa João Paulo II, falando aos bispos em Puebla, em 28 de janeiro de 1979, proclamou: “Nosso Deus em seu mistério mais íntimo não é uma solidão, mas uma família... e a essência da família é o amor”. A comunhão e a comunidade devem estar presentes em todas as manifestações humanas e em todas as concretizações eclesiais.
Por isso mesmo, a Eucaristia está no centro da vida de nossas comunidades de base. É o sacramento que expressa comunhão e participação de todos e todas, como numa grande família, ao redor da Mesa do Pai. Há comunidades que recebem a comunhão eucarística graças a presença do Santíssimo no local ou pelo serviço de um ministro extraordinário da sagrada comunhão. Como nossas CEBs, em sua maioria, “não têm oportunidade de participar da Eucaristia dominical”, por falta de ministros ordenados, “elas podem alimentar seu já admirável espírito missionário participando da ‘celebração dominical da Palavra’, que faz presente o mistério pascal no amor que congrega (cf. 1 Jo 3, 14), na Palavra acolhida (cf. Jo 5, 24-25) e na oração comunitária (cf. Mt 18,20)” (DAp 253).
A realidade das CEBs se expressa na liturgia e também na diaconia e na profecia. A diaconia educa, cura as feridas, multiplica e distribui o pão e chama para a solidariedade e a comunhão. A profecia anuncia o desígnio de Deus e denuncia os abusos, a mentira, a injustiça, a exploração e exige a conversão. Por isso, sofre perseguição, difamação, morte.
Temos duas testemunhas recentes desse duplo ministério dos discípulos e discípulas de Jesus Cristo: Dra. Zilda Arns e Irmã Dorothy Stang. Há muito conhecidas por nossas comunidades pobres pelo Brasil afora, elas inspiraram a ação das CEBs. Elas entregaram a vida e nos deixaram seu testemunho de fé e amor aos pobres, fracos, desamparados e discriminados.
Esta espiritualidade também possibilitou a produção de uma rica manifestação artística em nossas comunidades – músicas, poesias, pinturas, símbolos – típicos da prática religiosa e cultural de nosso povo, e que também são instrumentos de evangelização e de missão.
Vivência e Anúncio da Palavra de Deus e o Testemunho de fé
“A Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). A acolhida da Palavra de Deus e a vivência comunitária da fé são indissociáveis nas CEBs. A Bíblia faz parte do dia-a-dia da comunidade, estando presente nos grupos e pastorais, nas liturgias e na formação, na reza e nas ações que visam superar as desigualdades e injustiças da sociedade brasileira.
São espaços privilegiados de leitura bíblica nas CEBs os círculos bíblicos e grupos de reflexão. Neles o povo se coloca como sujeito eclesial, assume seu lugar na comunidade e na sociedade. O protagonismo dos leigos nas CEBs é expressão viva de uma Igreja que se renova animada pelo Espírito Santo, é também um sinal de que no discipulado estão surgindo novos ministérios e serviços.
“O ministério da Palavra exige o ministério da catequese a todos porque ‘fortalece a conversão inicial e permite que os discípulos missionários possam perseverar na vida cristã e na missão em meio ao mundo que os desafia’” (DGAE 64; DAp 278c). A vida em comunidade já é uma forma de catequese. Ela predispõe para o aprofundamento da fé e da vida cristã por meio do ministério da catequese e também pelo testemunho fraterno de seus membros.
Solidariedade e serviço
Alimentadas pela Palavra de Deus e pela vivência de comunhão, as CEBs promovem solidariedade e serviço. Reunindo pessoas humildes, as CEBs ajudam a Igreja a estar mais comprometida com a vida e o sofrimento dos pobres, como fez Jesus. Elas manifestam, mais claramente, que “o serviço dos pobres é medida privilegiada, embora não exclusiva, do seguimento de Cristo” (DP 1145).
Mais ainda, o surgimento das CEBs, junto com o compromisso com os mais necessitados, ajudou a Igreja a “descobrir o potencial evangelizador dos pobres”, primeiro, porque interpelam a Igreja, chamando-a à conversão; segundo, porque “realizam em sua vida os valores evangélicos da solidariedade, serviço, simplicidade e disponibilidade para acolher o dom de Deus” (DP 1147). As vocações religiosas e sacerdotais despertadas pelas CEBs sinalizam vitalidade espiritual, comunhão eclesial e um novo estímulo de consagração a Deus.
A formação dos discípulos missionários
Na sua experiência já amadurecida, as CEBs querem ser Igreja como o Concílio Vaticano II desejou: uma Igreja toda ministerial a serviço do Reino de Deus. A formação do discípulo missionário começa dentro delas pela experiência de um encontro feliz e alegre com a pessoa de Jesus, sua vida e seu destino. Como Jesus convocou discípulos e discípulas para estarem com ele, do mesmo modo, ele convoca também hoje discípulos e discípulas para estarem com ele e dele aprenderem o amor ao Pai, a fidelidade ao Espírito e o compromisso para a transformação do mundo em mundo de irmãos e irmãs.
Por sua capacidade de cuidar da formação da própria comunidade e de olhar, com compaixão, a realidade, as CEBs podem e devem ser cada vez mais escolas que ajudam “a formar cristãos comprometidos com sua fé; discípulos e missionários do Senhor, como o testemunha a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos de seus membros” (DAp 178).
A participação nos movimentos sociais, de cidadania, de defesa do meio ambiente em vista da construção do Reino de Deus
No que diz respeito à relação das CEBs com a dimensão sociopolítica da evangelização, o Sínodo sobre A Justiça no Mundo, de 1971, já tinha afirmado que “a ação pela justiça e a participação na transformação do mundo nos aparecem claramente como uma dimensão constitutiva da pregação do Evangelho, isto é, da missão da Igreja pela redenção do gênero humano e a libertação de toda situação de opressão” (introd.). Em vista disso, a Igreja no Brasil exorta as CEBs e demais comunidades eclesiais a se manterem fiéis à própria fé, no conteúdo e nos métodos, na busca da libertação plena, superando a tentação “de reduzir a missão da Igreja às dimensões de um projeto puramente temporal” (CNBB 25,64ss; Cf. EN 32).
Em relação à aproximação das CEBs com os movimentos populares na luta pela justiça, o documento 25 da CNBB afirmava que elas “não podem arrogar-se o monopólio do Reino de Deus”. Na verdade, a CEB deve tomar consciência de que, “como Igreja, é sinal e instrumento do Reino, é aquela pequena porção do povo de Deus onde a Palavra de Deus é acolhida e celebrada nos sacramentos ... sobretudo na Eucaristia” (70ss). As CEBs buscam, sim, a “colaboração fraterna com pessoas e grupos que lutam pelos mesmos valores” (73).
As CEBs têm despertado em muitos dos seus membros a espiritualidade do cuidado para com a vida dos seres humanos, de todas as formas de vida e a vida do Planeta Terra. A espiritualidade do cuidado tem motivado o surgimento de gestos e atitudes éticas de respeito, de veneração, de ternura, de cooperação solidária, de parceria, que promovam a inclusão de todos e de tudo no mistério da vida.
As CEBs promovem a participação ativa de seus membros nos grupos de economia popular solidária, resgatando o sentido originário da economia como a atividade destinada a garantir a base material da vida pessoal, familiar, social e espiritual. Contribui assim para que o trabalho humano, além de ser o lugar de edificação da dignidade humana e promoção da justiça social, seja também responsável pela promoção do desenvolvimento sustentável.
Espírito de abertura ecumênica e diálogo interreligioso
Uma das dimensões da espiritualidade cultivadas pelas CEBs é a do diálogo ecumênico e interreligioso, que se dá pela abertura ao mundo do outro, promovendo a unidade na diversidade e buscando as semelhanças na diferença. Esta espiritualidade dialogal tem sido assumida pelas CEBs como uma missão de fraternidade cristã, numa atitude de profundo respeito às demais manifestações religiosas, em busca da comunhão universal. Essa espiritualidade nasce do desejo expresso por Jesus: "Que todos sejam um!" (Jo 17,21)
Formação de rede de comunidades
Os membros das CEBs são discípulos de Cristo e ajudam a formar outras comunidades. Em meio a grandes extensões geográficas e populacionais, a comunidade eclesial de base requer que as relações sejam de fraternidade, partilha de vida, de bens e da própria experiência de fé. Ela deve provocar um encontro permanente com a Palavra de Deus e celebrar na liturgia, na alegria e na festa, a salvação que Jesus Cristo nos trouxe.
A experiência da fé e da participação faz amadurecer a comunidade eclesial de base, e lhe confere características próprias de modo a levá-la a um relacionamento fraterno de igualdade com as demais comunidades pertencentes à mesma paróquia. Com isso, a matriz-paroquial ganha maior relevância pastoral na medida em que passa a exercer a função de articuladora das comunidades.
Exortamos que a paróquia procure se transformar em “rede de comunidades e grupos, capazes de se articular conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos missionários de Jesus Cristo em comunhão” (DAp 172), tendo por modelo as primeiras comunidades cristãs retratadas nos Atos dos Apóstolos (At 2 e 4). Assim, a paróquia será mais viva, junto com suas comunidades, coordenadas por leigos ou leigas, por diáconos permanentes, animadas por religiosos e religiosas, e que tenham no Conselho Pastoral Paroquial, presidido pelo pároco, seu principal articulador pastoral.
Conclusão
Em comunhão com outras células vivas da Igreja, comunidades de discípulos e discípulas geradas pelo encontro com Jesus Cristo, Palavra feito carne (cf. Jo 1,14), como são os movimentos, as novas comunidades, as pequenas comunidades, que integram a rede de comunidades que a paróquia é chamada a ser, reafirmamos aqui o que está escrito no Documento 25 da CNBB: “Ao concluir estas reflexões, desejamos agradecer a Deus pelo dom que as CEBs são para a vida da Igreja no Brasil, pela união existente entre os nossos irmãos e seus pastores, e pela esperança de que este novo modo de ser Igreja vá se tornando sempre mais fermento de renovação em nossa sociedade”. (94)
Brasília-DF, 12 de maio de 2010
(Dalvirene Ari)
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Pentecostes marca encerramento do Projeto SMP na Diocese de Crato
No próximo dia 23/05 a Diocese de Crato, toda reunida com suas 49 paróquias representadas, celebrarão na data de Pentecostes o êxito do Projeto SMP - Santas Missões Populares com uma grande festa. O local será o Parque de Exposição do Crato, a missa será campal e logo após a cerimônia acontecerá pelas ruas da cidade uma grande procissão com o Santíssimo Sacramento até a Igreja de São Vicente Férrer no centro, onde lá, a mesma será eregida a Santuário Eucaristico Diocesano, com adorações a Jesus na Eucaristia 24h diárias. A expectativa é enorme, várias comunidades e paróquias já se mobilizam para marcarem prensença em especial evento. O bispo D. Fernando na oportunidade, dará inicio a uma nova missão que será a peregrinação do Santuário Missionário ou Triptico das Missões, que percorrerá toda a diocese até o ano de 2014, ano do Centenário da mesma. A Forania V, como primeira, recepcionará o Santuário peregrino para que todas as comunidades das 9 paróquias (Antonina do Norte será elevada a paróquia no dia 13/06), sejam visitadas e abençoadas, dando assim um ânimo novo para a missão continental (Documento de Aparecida).
A Paróquia Nossa Senhora das Dores, encontra-se mobilizada e levará ao domingo de Pentecostes mais de 50 pessoas em quatro vans, juntamente com os missionários de Antonina do Norte e Tarrafas. No ensejo de nos encontrarmos na missão que recomeça, as bençãos de Deus sob a proteção de Maria Santíssima.
A Paróquia Nossa Senhora das Dores, encontra-se mobilizada e levará ao domingo de Pentecostes mais de 50 pessoas em quatro vans, juntamente com os missionários de Antonina do Norte e Tarrafas. No ensejo de nos encontrarmos na missão que recomeça, as bençãos de Deus sob a proteção de Maria Santíssima.
Assinar:
Postagens (Atom)